Eu sou do século passado. Do tempo em que não existia internet.
Quando alguém viajava, era motivo de muito choro.
Carta demorava dias pra chegar e não tinha Skype, que é quase uma materialização da pessoa, bem na sua frente. As ligações eram caríssimas! Não tinha Viber
pra conversar horas e virar noite batendo papo. Lembro que, quando eu fazia
ligação interurbana, por algum motivo, minha mãe ficava a todo instante
interrompendo, dizendo que a conta ia vir um absurdo! E era um tal de falar mil e trezentas novidades em cinco minutos...
Vivi na época dos papéis de carta.
Nada de trocar SMS! Para as meninas, compartilhar significava trocar papéis de carta na hora do recreio (alguns vinham com cheirinho). E nem usávamos as linhas, não escrevíamos nada. A graça era trocar. Crianças que sempre iam a Disney nas férias, tinham os mais legais, aqueles valiam ouro: My Melody e Hello Kitty. Tudo aquilo encantava a gente. Eu, que só vivia em terras brasileiras, tinha mesmo os mais populares.
Ah, meu tempo de figurinhas...
“Amar é"... Ficar vidrada no seu álbum. Qualquer dinheiro que sobrava do lanche do colégio era usado pra comprar figurinha. A sensação de rasgar o pacotinho, nossa... Era sensacional! Mágica! E quando o pacote vinha com várias figurinhas repetidas? Era um “Deus nos acuda” pra trocar (eita, expressão mais old school...). E aqueles que vinham com figurinhas prateadas? Eram o máximo!
Era assim: todo mundo pulando, alegremente, ao som Dancing with Myself (na sequência, sempre Private Idaho - B 52's). De repente, as luzes se apagavam e todos se entreolhavam. Dava aquele friozinho na barriga! Essa era a hora da dança lenta. Era pegar ou
largar. As meninas ficavam sentadinhas esperando os meninos puxarem pra dançar. :-P
E aí? Caiu a ficha?
Quem é novinho nem sabe que o termo "caiu a ficha" é herança das fichinhas de orelhões. Que agonia pra achar lugar pra comprar! Que agonia pra encontrar um orelhão funcionando! Mais agonia ainda pra
falar correndo, porque a cada instante a gente ouvia aquele barulhinho (plim!) do
“lá se foi a última ficha”. Lembro também das noites (e não foram poucas) em que minha mãe ficava plantada na janela de casa, de cabelo em pé à minha espera, porque eu passava da hora combinada. E não era essa moleza de hoje em dia não, coitada! Os pais ficavam sem contato, na maior angústia. Não tinha essa de pegar o celular e ligar a qualquer hora e pra qualquer lugar. E agora, mesmo com essa facilidade, os filhos ainda se dão ao luxo de não atender. E quando a gente se perdia? Não tinha GPS pra se achar :-/
Eu discava o telefone!
Acho que meu filho nunca deve ter visto uma raridade dessas. Quando meu pai trancava o aparelho com cadeado, por causa dos inúmeros trotes que meus irmãos e eu passávamos (sem bina era uma maravilha!), nós usávamos um método infalível pra burlar a lei: era só bater na tecla a quantidade de vezes dos números do telefone. Explico melhor: 239-2978 (era o número da minha casa. Curtinho, né?). Batia duas vezes, depois três, depois nove e por aí vai. O ruim era quando o número de telefone era cheio de noves! Haja dedo... Chegava a doer.
Pac Man, River Raid, Enduro... Nossa, era uma emoção! Parecia coisa do outro mundo de tão avançado. Só tinha o botão de acelerar, frear e as direções. Hoje em dia é tanto botão que dá preguiça de jogar.
A gente brincava ao ar livre
Apesar do Atari, a maioria do tempo a gente passava pulando
elástico, brincando de amarelinha, bambolê, jogo de tabuleiro, pique pega, queimado, detetive, gato mia e... Salada mista! Eu era comportada, diziam que só ia olhar (vouyer!). Hoje, quem precisa
inventar brincadeira pra agarrar alguém?
Putz, eu falava “putz grila"!
O gato do colégio era um broto, bonito pra dedéu, super
azarado pelas meninas, deixava todas supergamadas. Quando eles não davam bola, elas
ficavam griladas. Mas quando conseguiam, ficavam numa nice! Não, não estou
viajando na maionese, era assim que a gente falava mesmo. Não era careta usar
esses termos. Muito pelo contrário - era chocante! Imagina se meu filho ia achar
maneiro usar essas expressões... É ruim, hein. É rodi! Bom, chega de pagar
mico.
Minha mãe lavava fralda
Não tinha essa moleza de fralda descartável. E pior: eu sou
gêmea. A coitada lavava fralda de pano o dia inteiro! Literalmente, uma merda. Depois era só prender com
alfinete. E também não tinha comidinha pronta, do tipo que é só abrir e caso
encerrado.
Fumar era cool
cinema, consultórios, restaurantes e
ninguém fazia cara feia. Hollywood era o sucesso! Os comerciais da marca eram
focados em saúde, esportes, gente sarada e feliz. Ganhei muito cigarrinho de chocolate da minha avó. Olha bem a embalagem, que visual politicamente incorreto!
Eu ouvia vitrola
Desde a Coleção Disquinho até os vinis de novelas.
E ouvia rádio o dia inteiro pra conseguir gravar as músicas que eu queria no bom e velho gravador de fitas cassete. Ficava arrasada ao trocar de estação e perceber que a música que nunca tocava já estava no meio. O ruim era quando as fitas enrolavam no meio da gravação.
Tempo de meia soquete pra ir à discoteca, de bala Sete Belo na
saída da escola, de escolher papel de parede para o quarto, tempo dos palitinhos premiados nos sorvetes da praia, dos ídolos do Menudo, de ir ao lugar reservado da videolocadora, cheia de vergonha, pra pegar filme pornô escondido... Os meninos então, pra verem mulher pelada tinham que comprar pilhas e pilhas de revistas. Aquelas que eles guardam amareladas até hoje :-). Pois é, muita coisa mudou. Hoje tem XVídeos, Pornotube, Redtuber, tudo é mais simples.
Pra viajar o mundo todo é só se conectar. Pra pesquisar, não precisa sair do
lugar, é só dar um Google. Dá pra levar sua TV no celular e guardar no bolso,
tecnologias impensáveis há algumas décadas. Mas, tudo tem sua época e seu
valor. E daqui a alguns anos, certamente, estarei trabalhando em outro texto,
contando que em 2014 os carros ainda não voavam.Vou arrebentar a boca do
balão! ;-)
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